Comunidade Quilombola Paraíso mantém viva a memória e a cultura em Fervedouro

Cultura

A poucos quilômetros da BR-116, em Fervedouro, está a Comunidade Quilombola Paraíso, a única reconhecida oficialmente na região. O nome carrega um simbolismo profundo: nasceu da sensação de liberdade que os primeiros moradores experimentaram ao fugir da escravidão.

Segundo relatos, o local foi fundado há cerca de 150 anos, quando um casal de escravos fugiu de uma fazenda em Itaperuna (RJ) e se estabeleceu na região. Com o tempo, o espaço foi se transformando, mas ainda preserva memórias e símbolos que remetem à luta e à resistência de um povo.

O morador mais antigo, João dos Santos Neto, relembra os desafios vividos pela comunidade, incluindo períodos de ameaça de perda das terras. “Foi uma época muito difícil. Tinham uns fazendeiros que queriam tomar todo o terreno, mas não conseguiram e estamos aqui até hoje”, contou.

Para garantir que essas memórias não desapareçam, a comunidade tem recebido estudantes da rede pública de Fervedouro. Durante a visita, as crianças conhecem toda a história e fazem um passeio por toda a comunidade. Dentre as visitas está a primeira escola construída no local – hoje desativada, mas ainda preservando a lousa negra na parede – e participaram de atividades no engenho, aprendendo de forma prática como se faz a rapadura, um dos doces mais tradicionais do Brasil que há décadas é produzido na comunidade.

Além disso, os visitantes conheceram a Igreja Santa Terezinha do Menino Jesus, construída com doações dos moradores e escolhida para guardar a certidão de reconhecimento da comunidade como quilombola. “Eu tenho muito orgulho da nossa comunidade. A gente ama isso aqui”, disse a moradora Maria da Penha, emocionada ao falar da importância do território.

Outro destaque é a casa do Sr. Fituti, conhecido por produzir remédios naturais a partir de plantas medicinais. Segundo ele, muitas pessoas de diversas regiões do país já buscaram suas fórmulas. “A minha sensação é de estar fazendo bem na vida das pessoas e na minha vida”, afirmou.

A visita integra a 10ª Jornada do Patrimônio Cultural de Minas, que este ano tem como tema “Paisagem Cultural e Patrimônio Toponímico”. A iniciativa em Fervedouro foi idealizada pela secretária de Cultura e Turismo, Patrícia Laviola, que destacou o papel da ação. “É uma comunidade rural que serve como um projeto piloto para preservar nossa história e nossa cultura. Por isso, é preciso que as gerações futuras conheçam este lugar”, afirmou.

No fim da visita, o olhar das crianças revelou o impacto da experiência. “Mudou muita coisa de antigamente para hoje”, disse Artur. “Foi muito legal aqui, gostei bastante”, completou uma das alunas. Já Maria Cecília resumiu: “Eu aprendi todas as histórias do quilombo e vou guardar para sempre essas lembranças”. Conclui uma das alunas.

A Comunidade Quilombola Paraíso resiste, mantém sua memória viva e mostra que preservar o passado é também garantir o futuro.

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